domingo, 30 de agosto de 2009

Carta aberta em solidariedade às manifestações contrárias ao golpe militar em Honduras

Nós, mulheres dos coletivos de auto-defesa feminista do Brasil, manifestamos publicamente nossa solidariedade e apoio à luta de resistência hondurenha,assim como nosso repúdio ao golpe militar instaurado no último 28 dejunho; ao governo ilegítimo de Micheletti e à cumplicidade e co-autoriaridícula do governo dos estados unidos.

Sabemos que o governo de Barack Obama, apesar dos discursos pró-democráticos, tem mantido uma linha de continuidade preocupante com as políticas intervencionistas ilegítimas extremamente arrogantes,historicamente desastrosas na América Central e do Sul. Não é preciso citar massacres e ditaduras militares que estão vivos em nossa memória coletiva revolucionária. Tais políticas, que incluem o fornecimento de arsenal e treinamento militares, possuem o objetivo evidente de conter (para não dizer dizimar, afinal, esse é um documento diplomático) movimentos populares que buscam autonomia, liberdade ejustiça social. Também sabemos que os estados unidos sistematicamente tem apoiado a instauração de regimes elitistas e oligárquicos obedientes às suas ordens porque, em realidade, temem uma aliança latinoamericana e caribeña que conteste seu poder de império. A mensagem que está sendo transmitida por muitas vozes em muitas partes de várias maneiras diz que ditaduras desse tipo (neoliberais,protestantes e militares, sobretudo) não serão mais toleradas!
Nós manifestamos, pois - em consonância com as exigências dos movimentos populares, em particular, das Feministas en Resistência -pelo fim das perseguições políticas das pessoas, ativistas e grupos contrárixs ao golpe; pela restituição imediata do governo de Zelaya e realização do plebiscito sobre a possibilidade de realização de uma Assembléia Nacional Constituinte; pela não-intromissão (e desintrusão) do governo gringo nos assuntos e territórios de todos os países que compõem a América Latina e, finalmente, pela livre e auto-determinação dos povos da América Latina, fim do imperialismo externo (gringo) e interno (das elites econômicas marionetes conservadoras).
Entendemos ainda que a gestão de qualquer território deve ser imaginada e praticada por aquelas pessoas que vivem ali e tem uma relação afetiva, de cuidado e de subsistência com dito território e que interesses capitalistas, militares, neoliberais, especulativos, catequistas nuncaf oram, não são e nunca serão bem-vindos e não passarão!

BRASIL, 01 DE AGOSTO DE 2009.

libres o muertas, jamas esclavas!
Coletivas do Distrito Federal (DF), Salvador (BA), Wendo Teimosia (PB) e Natal (RN).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

"Em qualquer lugar que tenha uma mulher em situação de violência, este conhecimento será repassado"


O Coletivo Wendo Teimosia está andando pelo Brasil para conhecer e aumentar os laços com outros coletivos existentes no país. O primeiro grupo a ser visitado foi o de Salvador (BA) no mês de julho. A integrante do Teimosia, Mabel Dias, foi recebida por Luciana Rangel, Kátia Milena e Carol Reis. Além de fazerem parte do Wendo, Carol e Luciana estão envolvidas com a Cooperativa Rango Vegan e Kátia com as artes da grafitagem.
Aproveitando a passagem por Salvador, fiz esta entrevista com as meninas, onde conversamos sobre as atividades realizadas pelo Wendo com as mulheres da cidade e no Centro de Referência da Mulher Loreta Valadares, além das expectativas delas e objetivos com a realização do I Encontro Nacional de Wendo, que ainda não tem data marcada para acontecer.

Por Mabel Dias

1) Como surgiu o grupo WenDo Salvador?

Grupo WenDo Salvador: Surgiu em 2002. Participavámos de um coletivo anarcofeminista (Krii por Libero) e recebemos uma feminista alemã, que também é instrutora de WenDo há mais de 20 anos e mostramos interesse pela proposta de autodefesa feminista e Trude facilitou uma oficina de iniciação básica de WenDo, que durou 2 dias. Após o 1º contato com WenDo conhecemos uma outra feminista da Áustria chamada Andrea, que também passou um pouco mais de técnicas do WenDo. Quando retornaram pra Europa as 2 instrutoras resolveram desenvolver um projeto pra levar mulheres do Brasil pra treinarem intensamente no período de 2 meses, pra quando retornassem pro Brasil formassem um grupo de WenDo e passassem as informações adquiridas pra outras mulheres e foi o que aconteceu.

2) Quais são as atividades realizadas atualmente pelo grupo WenDo Salvador?

GWS: Atualmente estamos desenvolvendo um trabalho de capacitação de atenção de mulheres sobreviventes da violência, junto a Superintendência de Políticas pra Mulheres e ao Centro de Referência Loreta Valadares (CRLV).Esse trabalho tem duração de 4 meses com aulas semanais no período de 3 horas. Estamos trabalhando com uma metodologia de oficinas temáticas a cada treino, abordamos assédio nas ruas, solidariedade de grupo, técnicas de golpes, desprendimentos, escolinha de boxe,resgate da auto estima, entre outros.As mulheres que passam pelas oficinas são usuárias do próprio Centro de Referência Loreta Valadares, mulheres em situação de risco, militantes feministas, profissionais do sexo e dependente químicas.
A meta final desse projeto é que possamos desenvolver um vídeo com depoimentos de mulheres que usaram o WenDo com eficá cia em suas vidas,temos o intuito de mostrar a mudança que o WenDo pode proporcionar para todas as mulheres que tem contato com autodefesa .

3) Como tem sido a experiência de difundir o WenDo com mulheres sobreviventes da violência em Salvador?Como surgiu a oportunidade de realizarem oficinas no Centro de Referência Loreta Valadares?

GWS: A experiência de difundir o conhecimento que temos tem sido muito gratificante, pois já passamos o WenDo pra muitas mulheres diferentes, antes mesmo do trabalho com o CRLV nós já haviamos tido experiência com outras mulheres sobreviventes de violência,fizemos atividades em bairros, movimento sem terra, movimento sem teto de Salvador, mulheres simples e carentes,cada uma com histórias de vida sofrida nas periferias de nossa cidade, mas em todos os locais que íamos havia mulheres que já passaram por uma situação de violência, mas só CRLV é que trabalhamos com uma turma em que a maioria é sobrevivente dela. Nosso 1º contato com o CRLV foi através de visitas que fazíamos ao Centro,mostrando nosso interesse em fazermos uma atividade conjunta, não demorou muito, tivemos a oportunidade de ministrarmos uma oficina aberta no dia 8 de março de 2008 e a partir disso firmamos uma parceria que logo depois se confirmou através do projeto que estamos integradas e que começou no atual ano de 2009.

4) No material de divulgação produzido pelo Grupo WenDo Salvador vocês dizem que o projeto também promove debates com mulheres,no intuito de interagir com tudo que se refere a superação de sistema de gênero.Como te acontecido estes debates?E quais são os seus resultados?

GWS: Sempre que fazemos oficinas nos preocupamos em deixar um momento especifico pra debate, diálogos e vídeos. Usamos temáticas baseada nas relações de gênero que somos constantemente obrigadas a aceitar, passamos nosso ponto de vista pra essas mulheres e percebemos que elas também se sentem vez ou outra fora desses padrões determinados pela sociedade, mas na maioria das vezes elas querem desabafar e falar de seus problemas que associamos diretamente a relações de gênero, mostramos que elas passam por determinadas situações só pelo fato de serem mulheres e felizmente elas entendem e opinam sobre os assunto independente do tema dos treinos ,essas mulheres retomam o controle de suas vidas naquele instante a até mesmo ajudam outras qual ainda não tenham chegado ao mesmo nível delas. Acreditamos que o sistema de gênero foi criado pra nos limitar, se isso nos incomoda temos sim que superá-lo, pois só traz desigualdades, injustiças e violência. Incentivamos que elas lutem por mudanças reais,mudanças que superem esse sistema patriarcal que vivemos e que juntas consigamos construir um mundo mais justo.

5) Por fim, falem sobre a importância do WenDo na vida das mulheres e da realização de um encontro nacional de WenDo com outros grupos do Brasil.

GWS: Acreditamos que o WenDo faz a diferença,nos torna mais seguras,confiáveis,independentes, nos ajuda a acreditarmos em nossa intuição, ficarmos atentas nas ruas, aprendemos a nos impor perante situações que desejamos manifestar o que pensamos e principalmente nos ensina a saber dizer "não" quando necessário.O intuito de fazermos um encontro, é principalmente pra firmarmos uma articulação nacional do WenDo aqui no Brasil,trocarmos experiências,reciclarmos umas as outras e também para nos conhecermos pessoalmente,sabermos quais mulheres e de que local do Brasil são nossas parceiras de luta.Estamos torcendo pra que consigamos construir esse encontro no próximo ano, acho que devemos nos articular com os outros grupos pra que dê tudo certo, já que estamos tentando nos encontrar já faz algum tempo.Queremos aproveitar que outras companheiras estão se atualizando na Europa para passar esses novos treinos pra nós que estamos treinando separadamente em cada cidade, é importante pra revitalizar, apoiar e dar uma energia pra todos os grupos do Brasil. Assim como mulheres do nosso grupo fizeram quando receberam os treinos em 2003 formamos o 1º grupo de WenDo do Brasil e 1º a passar o conhecimento pra várias mulheres, com esse contato pudemos ajudar na construção de vários grupos que se formaram e que hoje ainda estão ativos como em João Pessoa, São Paulo, Natal e Brasília e em lugares que não formaram grupos como, Blumenau, Rio de Janeiro, Maceió e até grupos que infelizmente estão inativos, que é o caso de Aracajú.O encontro será muito importante para que possamos nos fortalecer e continuarmos o nosso trabalho, em qualquer lugar que tenha uma mulher em situação de violência,em qualquer lugar que tenha uma mulher esse conhecimento será passado.

GRUPO WENDO SALVADOR
LUTANDO COMO UMA MULHER!

Essa entrevista foi respondida coletivamente pelo grupo WenDo Salvador, formado por Luciana Rangel, Carol Reis e Kátia Araújo.

Abraços e beijos libertários a todas as companheiras.

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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Porque treinar nosso corpo?

O desenvolvimento da força e das habilidades físicas sempre foram atividades por razões culturais majoritariamente praticadas por homens. Por isto, não é surpreendente que eles tenham mais força do que nós, mulheres. talvez, se nos dedicarmos também a consertar carros e os homens à educação das crianças, as coisas sejam diferentes.
Conhecer as possibilidades de nosso corpo e começar a desenvolver os músculos (que temos iguais ao dos homens) nos dá a possibilidade de sentirmos com maior segurança, confiança e autonomia.
Ademais, a atividade física gera saúde, renova, faz circular a energia e nos dá maior equilíbrio físico e mental. Romper este mito estabelece uma questão biológica ou inata aos homens, dizendo que eles têm mais força que as mulheres,é tão simples como aprender a prescindir deles. Por exemplo, na hora de mover um móvel em vez de chamar um homem para que nos ajude, porque não chamar uma amiga para fazê-lo? É um grande passo!
Tanto a força como as atividades culturalmente determinadas para os gêneros (masculino/feminino) são um mito facilmente destruído. É tão simples para uma mulher aprender a mudar o pneu do carro, como é para o homem ajeitar a cama ou lavar a roupa
A aprendizagem de ofícios úteis como eletricidade, mecânica, etc e a destreza física mostram a autonomia e independência de toda pessoa.
Um dado concreto é saber que se necessita a mesma força para levantar quatro quilos de verduras, que romper quebrar uma madeira com um golpe correto. Muitas vezes não é a força que vale na hora de defender-se, e sim a confiança em você mesma e a técnica muito bem utilizada.


FONTE: EDICIONES DEGENERADAS - ARGENTINA

WenDo - auto defesa para mulheres

Wendo significa “caminho das mulheres.” Trata-se de uma autodefesa feminista, voltada exclusivamente para mulheres.
O Wendo surgiu no Canadá, entre meados das décadas de 60 e 70, se dissipou na Europa e foi absorvido pelo movimento feminista-lesbiano da época e também nos dias atuais. Porém, esta técnica não é voltada apenas para as mulheres lésbicas nem para feministas, sendo praticada por toda mulher que queira aprender meios de se defender.
O objetivo dos coletivos de Wendo é desenvolver técnicas fáceis de serem compreendidas e praticadas, potencializando a segurança e a defesa da mulher, tanto física, quanto psicológica. Além de abordar questões físicas e emocionais, o Wendo é um espaço para o bem-estar e interatividade social entre as mulheres, através de conversas, jogos e dinâmicas. O espaço estimula a auto-estima e desmistifica a incapacidade física das mulheres para a luta, pois, independente de condicionamento físico, biótipo ou sensibilidade, o mais importante é a força de vontade, determinação e o bem estar no que fazemos.
Acreditamos que, desta forma, poderemos juntas, evitar e diminuir os índices de agressões contra as mulheres, desde os mais cruéis, até o mais simples incômodo de andar nas ruas e sofrer desrespeito.
O Grupo de Wendo Teimosia da cidade de João Pessoa (localizada na região nordeste do Brasil), Paraíba, é composto atualmente por quatro mulheres (Lorena, Mabel, Bethânia e Lívia). Três delas participavam anteriormente, do grupo Wendo-JPA. Essas integrantes ampliaram a proposta do Wendo formando um novo grupo, o Coletivo Wendo Teimosia. No período de dois anos, essas instrutoras ministraram sete oficinas, sendo uma delas na cidade de Vitória, Espírito Santo e a outra em Fortaleza, no Ceará. O grupo tem realizado treinos abertos (para mulheres que já participaram de oficinas) e reuniões de planejamento de suas atividades
O grupo Wendo Teimosia foi criado com o objetivo de combater as violências físicas e psicológicas do dia-a-dia e não se detém apenas a treinos físicos mas, sobretudo, a trabalhar a linguagem corporal e as habilidades psicológicas e verbais, através de oficinas, que contam com uma metodologia participativa, interativa, com dinâmicas, jogos, rodas de diálogos temáticas como saúde da mulher, direitos humanos, violência contra a mulher e autoestima
O coletivo Wendo Teimosia de João Pessoa está aberto a participação e colaboração das mulheres e garotas da cidade. Para isto, basta apenas participar de alguma oficina e continuar indo aos treinos abertos, também realizados quinzenalmente.
Conheça e pratique o Wendo! Ajude a fortalecer a luta pelo combate à violência contra as mulheres!


“O medo da mulher a violência e o medo do homem a mulher sem medo” Eduardo Galeano.