quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Lésbicas são sequestradas no Equador para "curar" lesbianidade


FOTO DE RAYANE NORONHA

Clínicas de tratamento para curar mulheres da lesbiandade estão sendo descobertas e denunciadas no Equador. São várias mulheres, de várias idades, sendo sequestradas de suas vidas cotidianas e internadas para receber "tratamento" à base de estupro, espancamento, violência psicológica, e várias outras violações do direito sexual à livre expressão e exercício da sexualidade, que é um direito humano.
O dia 25 de novembro, Dia Internacional Pela Não-Violência contra Mulheres, geralmente é marcado por campanhas pelo fim da violência conjugal heterossexual.
Mas o patriarcado não violenta unicamente mulheres heterossexuais casadas com homens, ele violenta a todas nós!
No dia 25 de novembro pode ser muito importante, simbólica e fisicamente, se cada uma de nós conseguir se juntar a mais algumas amigas com algumas faixas e cartazes e protestar na Embaixada e Consulados do Equador contra o sequestro, prisão e tortura de mulheres lesbianas.

Endereços dos Consulados e Embaixada:

EMBAIXADA DO EQUADOR NO BRASIL

BRASILIA - DF
(Jurisdição no Distrito Federal e nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins)
Endereço: SHIS QL 10, Conj. 8, Casa 1
CEP: 71630-085. Lago Sul, Brasília DF
Tel: (0055-61) 3248-5560
Fax: (0055-61) 3248-1290
E-mail: embeq@solar.com.br
Encarregado das Funções Consulares: Ministro Hernán Yánez

CONSULADOS DO EQUADOR NO BRASIL

BRASILIA - DF
(Jurisdição no Distrito Federal e nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins)
Endereço: SHIS QL 10, Conj. 8, Casa 1
CEP: 71630-085. Lago Sul, Brasília DF
Tel: (0055-61) 3248-5560
Fax: (0055-61) 3248-1290
E-mail: embeq@solar.com.br
Encarregado das Funções Consulares: Ministro Hernán Yánez


BELO HORIZONTE - MG
(Jurisdição no Estado de Minas Gerais)

NOTA: FECHADO INDEFINIDAMENTE


CAMPINAS - SP
(Jurisdição no Município de Campinas)
Endereço: Av. Orosimbo Maia, 1625 -Vila Itapura
CEP: 13024-035 Campinas-SP
Tel.: (0055-19) 3255-7171 – 3255-5851
Fax: (0055-19) 3253-7633
E-mail: vallejoperez@uol.com.br / vallejoperez@gmail.com
Horário de Atendimento: 09:30 – 13:00 / 14:00 – 18:00
Santiago (secretário)
Cônsul ad-Honórem: Sr. Oswaldo Rogelio Vallejo Pérez


FORTALEZA - CE
(Jurisdição nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão)

NOTA: EM PROCESSO DE ABERTURA

MANAUS - AM
(Jurisdição nos Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia, Roraima e Acre)
Endereço: Rua Sete, casa No 02, Conjunto Jardim Nova Friburgo, Parque 10
CEP: 69054-080, Manaus-AM, Brasil
Telefax: (0055-92) 3236.2073
E-mail: Cansuladomanaus@hotmail.com
Horário de Atendimento: 11:30 a 14:00
Cônsul ad-Honorem: Dr. Alexis Noroña


PORTO ALEGRE - RS
(Jurisdição nos Estados do Rio Grande do Sul)
Endereço: Rua Euclides Moura No. 116 - Bairro Paternon
CEP 90680-070 Porto Alegre- RS
Telefax: (0055-51) 3315-5921
E-mail: quintana.ez@terrra.com.br
Horário de Atendimento: 7:30 – 12:00 / 14:00 – 17:30
OBS: Atendimento ao público somente pela manhã.
Amélia (secretária)
Cônsul ad-Honórem: Sr. Fernando Quintana Díaz

RECIFE - PE
(Jurisdição nos Estados de Pernambuco e Paraíba)
Endereço: Av. Fernando Simões Barbosa No 266, edifício
Empresarial Wecon VI, sala 1206, Bairro Boa Viagem
CEP: 51020-390, Recife-PE
Tel: (0055-81) 32017979

E-mail: consuladoequador@consulrecife.com.br
Horário de Atendimento: 9:30 – 12:00
Cônsul ad-Honórem: Sra. Virginia Pimentel Rodrigues


RIO DE JANEIRO
(Jurisdição nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo)
Endereço: Rua Pintor Oswaldo Teixeira, 465 - Barra Da Tijuca
CEP 22631-420 Rio de Janeiro - RJ
Telefax: (0055-21) 3563-0380
E-mail: conecrio@rionet.com.br
Horário de Atendimento: 10:00 – 15:00
Cônsul ad-Honórem: Sra. Mônica P. Delgado de Loaiza


SÃO PAULO - SP
(Jurisdição nos Estados de São Paulo, exceto o Município de Campinas e Mato Grosso do Sul)
Endereço: Rua Funchal No 411, Conj. 34, Vila Olímpia
CEP 04551-060 São Paulo, Brasil
Tel.: (005511) 27697828
E-mail: cecusaopaulo@mmrree.gov.ec
Cônsul Geral: Srta. Paola Prado

ESCRITÓRIO COMERCIAL DO EQUADOR EM SÃO PAULO
Endereço: Rua Funchal No 411, Conj. 34, Vila Olímpica,
CEP 04551-060 Sao Paulo, Brasil
Tel: (005511) 2769-7828
E-mail: ocecusaopaulo@mmrree.gov.ec
Chefe do Escritório Comercial: Sr. Manuel Echeverría


SANTOS – SP
(Jurisdição Município de São Paulo)
Endereço: Rua Dom Pedro II, 56 Centro
Santos - SP
CEP: 11.010.080. Santos-SP
Tel.: (0055-13) 3219-4239
Fax: (0055-13) 3219-4926
E-mail: ceavconsulsantos@yahoo.com.br
Horário de Atendimento: 09:00 – 18:00
Cleide (secretária)
Cônsul ad-Honórem: Dr. Carlos Alvarez

Quem ama cuida

domingo, 31 de julho de 2011

Coletivo Teimosia realiza festa feminista

‘’Se não posso Dançar, não é minha Revolução’’.
Emma Goldman.

O Coletivo Teimosia é um coletivo autônomo, formado por mulheres e lésbicas feministas que acreditam no rompimento do Medo e do Silêncio, provocados pelo machismo que violenta diariamente mulheres e meninas. Lutamos pela Autonomia e Liberdade das MULHERES.

Por acreditarmos e vivermos esta autonomia, no dia 06 de agosto de 2011 (sábado), no Pogo Pub – Centro Histórico, estaremos realizando a festa “Se não posso dançar, não é minha revolução”, com o intuito de dialogarmos sobre Feminismo Autônomo e suas diferentes formas de ação. Na festa, lançaremos o segundo volume da cartilha “Mulheres Anarquistas: o resgate de uma história pouco contada”. A cartilha conta as histórias de grupos e de mulheres anarcofeministas, anarquistas e anarcopunks, do Brasil e de outras partes do mundo.


Compartilharemos neste dia esta programação:

10h - Oficina de Wendo - auto defesa feminista

12h - Almoço

14h - Bate papo sobre Feminismo Autônomo e lançamento da cartilha “Mulheres Anarquistas: o resgate de uma história pouco contada”

16h - Intervenções artísticas na cidade

Por querermos estimular e estabelecer a solidariedade e união entre as mulheres, lembramos que esta atividade será só para mulheres e lésbicas. Para participar da oficina de auto-defesa feminista, que é gratuita, é importante fazer sua inscrição antecipada através do e-mail coletivowendo@gmail.com São apenas 10 vagas. Garanta a sua! Convide suas amigas, mãe, irmãs, namorada, tia, prima, e participe! Traga seu copo para ajudarmos na preservação do meio ambiente e seu lanche/ refeição para o almoço.

O que é Wendo?

WenDo é uma prática de auto-defesa que surgiu no Canadá entre as décadas de 60 e 70, por meio de mulheres de uma família que praticavam vários tipos de artes marciais. Ao ficarem sabendo que sua vizinha havia sido espancada e estuprada dentro de sua casa, vindo a morrer por conseqüência das agressões, elas decidiram organizar um programa que reunisse técnicas fáceis para que as mulheres pudessem usar de forma efetiva e sem necessidade de força ou condicionamento físico.
Assim como o movimento feminista, o WenDo foi se transformando ao longo do tempo e mantém-se em contínua construção. Não se trata somente de um conjunto de técnicas para que as mulheres possam se defender de uma possível agressão. O WenDo é uma prática que permite que as mulheres reflitam sobre a violência de gênero e, assim, aprendam a se prevenir e a se defender. É um espaço de fortalecimento e empoderamento das mulheres.


O WenDo é uma prática que se tornou referência para o movimento feminista do Canadá e da Europa e vem sendo amplamente difundida em outras partes do mundo. Na América Latina já existem grupos de referência na Argentina e no Brasil, promovendo oficinas e discussões sobre a questão da violência contra a mulher.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Violência e fundamentalismo religioso

O tratamento das violências que acometem as mulheres no Brasil se revela, de fato, pouco efetivo. Instituições permanecem com juízos de valores que se fundamentam a partir de fendas culturais que impede a autonomia das mulheres. Na prática, a defesa da vida das mulheres não integra uma pauta prioritária para os setores de decisão do nosso país.

Em notícia publicada pelo jornal Estadão em julho deste ano, o Mapa da Violência no Brasil 2010, do Instituto Zangari revela que dez mulheres são mortas por dia no país, de acordo com este estudo, o nível de assassinato feminino no Brasil fica acima do padrão internacional.

O estudo não aponta o tipo de violência que mais incide nesta realidade, porém o CFEMEA compila alguns dados que revelam a situação das mulheres frente a violência doméstica e aponta que: " A violência doméstica é a maior causa de ferimentos femininos em todo o mundo, e principal causa de morte de mulheres entre 14 e 44 anos (Rel. Dir. Hum. Da Mulher da Human Rights Watch/96).

Outra questão que provavelmente incide no dado acima citado é o alto número de mortalidade materna. No Brasil, a política de Saúde da Mulher no âmbito dos Direitos Sexuais e Reprodutivos conta com a falta de cobertura para as mulheres que desejam praticar o aborto, prática é criminalizada no país. Daí a concepção de violência ser tão abrangente e permear diversos aspectos na vida das mulheres. No Brasil, a interrupção da gravidez constitui a quinta maior causa de internações na rede pública de saúde e estudos revelam que o aborto é a terceira causa de morte materna no país (IBGE - 2001).
O índice alarmante de mortes de mulheres no país parece não ser suficiente para que as instituições com poder de decisão priorizem as questões que violam os Direitos Humanos das mulheres. Pautar a interferência dos valores religiosos nos âmbitos das Políticas Públicas de Saúde e de Justiça no atendimento às mulheres é agenda prioritária na sociedade brasileira, que afirma possuir uma Constituição de caráter Laico.

Dados fornecidos pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República apontam 343.063 atendimentos nos sete primeiros meses de 2010 - pelo disque denúncia (180). São Paulo foi o estado com maior número de denúncias.

Em Março deste ano, o Ministério Público do Estado de São Paulo convocou toda a rede de serviços especializados no atendimento às mulheres em situação de violência para exigir que o fluxo fosse revisto. Isto porque a juíza da Vara especializada de violência famílias contra a mulher, a única implantada no Estado, constatou que os inquéritos das mulheres em risco de morte abrigadas em serviços sigilosos não chegaram para a justiça; somente um caso era de conhecimento da juíza.

A realidade de falta de cumprimento da Lei Maria da Penha em São Paulo foi então oficializada pelo Ministério Público: que exigiu das delegacias a efetiva abertura dos inquéritos de todos os Boletins de ocorrências registrados. Hoje, mesmo com esta exigência, a situação permanece a mesma: as mulheres não realizam a representação no momento de registrar o BO e quando desejam são orientadas a voltar em outro dia com a representação agendada; cabe ressaltar que sem a representação da mulher o inquérito policial não é aberto; somente o registro do BO não basta.

Em experiência de trabalho no Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher Viviane dos Santos, serviço que atende mulheres em situação de violência doméstica localizado na Zona Leste de São Paulo, no bairro de Guaianases , a falta do Estado Laico e o fundamentalismo religioso é presente no relato de parte das mulheres que recorrem à orientação profissional na tentativa de romper com a situação de violência doméstica. Observamos a interferência das recomendações dos padres e pastores na decisão das mulheres romperem com a situação de violência, no sentido de prolongar essa vivência em nome da família e do casamento.

Neste contexto, o sofrimento de parte das mulheres em situação de violência se agrava com o prolongar desta vivência, muitas vezes orientada pela crença religiosa. A violência e os frutos dela favorecem um grande sofrimento psíquico nas mulheres, ao recorrerem freqüentemente à rede social que estabeleceram nos espaços religiosos, sem o apoio devido que necessitam para enfrentar a situação, passam, muitas vezes, a acessarem os serviços de saúde para a cura da dor que sentem, e esta dor vem sendo cada vez mais tratada como depressão, o que leva grande número de mulheres se tornarem dependentes de medicamentos controlados.

A gestão municipal terceiriza diversas políticas públicas com entidades filantrópicas. Na Zona Leste de São Paulo, no caso da saúde, a Instituição que administra parte dos hospitais e postos é de origem religiosa da Igreja Católica. Observamos que os métodos contraceptivos são encontrados com dificuldades nas unidades, o que revela pouca atenção voltada à garantia dos direitos sexuais e reprodutivos por parte destas instituições. Da mesma forma acontece com a efetivação do aborto legal previsto em lei: não é um procedimento realizado pela administração destas unidades. As mulheres relataram maus tratos nos atendimentos relacionados aos tratamentos das complicações conseqüentes de aborto espontâneo ou não.
Quanto ao procedimento obstetrício, mulheres que não possuem condições de realizar parto normal são submetidas ao sofrimento até as últimas conseqüências, para que assim a cesariana seja providenciada.
No âmbito da política de Assistência Social, grande parte das instituições parceiras da Prefeitura é de origem religiosa. Neste aspecto, não há um marco regulatório para a execução das atividades voltadas a garantir o caráter do acesso à política de Assistência Social como um acesso ao direito garantido. O atendimento é tratado, em grande parte, com um caráter de ajuda e caridade, o que perpetua uma antiga relação de paternalismo entre o poder público e a população pobre intermediada pela influencia religiosa.
A influência do Fundamentalismo Religioso no cotidiano das mulheres em situação de violência doméstica se faz a partir de sutileza nas relações de poder com o companheiro e que nem sempre são percebidas por conta da legitimação que se dá a essa violência, vista como algo naturalizado e, portanto, não passível de mudança. O Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher - Viviane dos Santos possui alguns casos concretos que desmascaram essa situação:
- Caso Maria*: Maria compareceu ao núcleo encaminhada pela 8º DDM por conta da violência física e psicológica que vivia com a marido, sendo que a mesma não sabia o que fazer para que ele parasse de discutir com ela. Ele foi seu primeiro marido, primeiro homem e se casou porque queria ter um filho. Engravidou após a morte da mãe porque não queria se sentir sozinha. Assumiu após 3 meses de acompanhamento psicológico que na verdade queria se divorciar para dar um susto nele e não porque queria mesmo se separar. Maria demonstra traços depressivos e dificuldade de auto-aceitação, pois segundo ela, se sente feia, gorda e sem graça . Possui forte influência da moral religiosa, pois acredita que casamento é pra vida toda e seu marido tem obrigação de mudar e cuidar dela. Não enxerga que está carregando o casamento sozinha e tem dificuldade para admitir que está em situação de violência. Ligou após 5 meses de acompanhamento psicológico informando que não iria mais continuar, pois sentia que estava traindo seu marido ao falar "mal" dele com a psicóloga. Comenta que o pastor a orientou para continuar orando na igreja e participar de uma campanha para "restaurar seu casamento".
- Caso Joana*: Joana veio ao núcleo encaminhada pela Casa Ser Dorinha (Centro de Saúde da Mulher) afim de que tivesse o acompanhamento psicológico, por ser considerada "nervosa demais" relacionando esse nervosismo a violência sexual e psicológica que viveu. Desde o primeiro atendimento há um ano e meio atrás, a usuária relata claramente que seu maior problema é seu filho de 14 anos por ele não ajudá-la em casa, já que ela trabalha o dia todo e precisa dele para cuidar da irmã mais nova de 4 anos. Comenta que ele só fica no quarto, jogando videogame e o quarto dele é sempre bagunçado. Na realidade, o conteúdo implícito de tudo isso é que seu filho é fruto de um estupro que viveu quando morava no Rio de Janeiro e o pai dele é um traficante famoso por lá. Saiu fugida para São Paulo e morando com familiares passou a ser humilhada por ser mãe solteira, sendo que muitas vezes maltratavam fisicamente seu filho. Decidiu morar na rua para não sofrer mais e com isso, passou para um albergue transitório, onde engravidou e teve sua segunda filha. Depois dessas dificuldades todas, conseguiu um apartamento num programa de arrendamento habitacional e hoje trabalha registrada como empregada doméstica. A usuária sempre fala com muita raiva e "dureza" sobre seu filho e com suavidade sobre sua filha. Por conta das discussões e por bater constantemente nele, foi denunciada ao Conselho Tutelar, sendo que seu filho foi abrigado há um mês. Confessa que se sente aliviada por isso, pois acredita que no abrigo ele será melhor atendido. Comenta que as pessoas não a entendem ao dizer que não gosta dele, mas na verdade, não gosta daquilo que ele a faz lembrar: o estupro. Hoje ela vive um paradoxo sentimental, pois demonstra em algumas falas que gostaria que ele voltasse para casa, diz que o ama, mas sente raiva de tudo o que já sofreu por conta da violência sexual. Ainda é difícil admitir seu sentimento de mãe.
- Caso Beatriz*: Beatriz veio ao núcleo há dois anos atrás, a fim de participar das oficinas artesanais, pois gostaria de se distrair, mas na realidade sua filha que na época tinha 15 anos denunciou seu marido no Conselho Tutelar por conta das violências físicas e psicológicas que vivia com ele, sendo que o Conselho a encaminhou ao núcleo. Desde seu primeiro atendimento, comentou as traições do marido, a depressão pós-parto que sofreu, as violências físicas, sexuais, psicológicas, a ameaça de morte, a privação de liberdade e o incêndio em sua casa. Comenta constantemente que ele fica feliz quando ela adoece, pois por conta de tudo o que viveu precisou ser atendida pelo psiquiatra, tomar calmantes e antidepressivos. A usuária é evangélica e acredita que casamento é para vida toda, além disso, comenta que só se separaria dele, se o pastor pedisse pra ela se separar, pois reclama do jeito do seu marido, mas não consegue deixá-lo. Relata que sente falta do cheiro dele e mesmo não dormindo mais junto e acreditando que está sendo traída, não pretende se separar. Seu marido também é evangélico e quando era solteiro, bateu na amante do pai, é constantemente agressivo com ela e sarcástico com sua doença. Beatriz apresenta características de fortes traços depressivos e foi diagnosticada pelo psiquiatra com Transtorno Bipolar, ou seja, ora está em mania (alegre, sorridente) ora está em depressão profunda (possibilidade de suicídio) e essa alteração no humor acontece constantemente e chega a se alterar muitas vezes no mesmo dia.
O enlouquecimento da mulher em situação de violência se dá pela legitimação dessa violência, já que o fundamentalismo religioso, em muitos casos, é um dos fatores prejudica o rompimento desse ciclo. Esta usuária apanhava quando criança do pai, que também era evangélico, por ela ser "alegre demais". Hoje nem suas filhas e nem sua mãe querem que ela se separe, dizem que agora ela precisa cuidar da saúde. Mas cuidar da saúde significa não ser "alegre demais", ser contida, ficar em casa e não trabalhar. De acordo com Beatriz *, seu marido gosta quando ela está doente e sempre diz "não esquece de tomar o remédio". Para ela a doença é reflexo das violências que vive com o marido, mas não consegue ver a influência do fundamentalismo religioso nisso.
A luta pela garantia do Estado Laico é fundamental para revertermos o quadro recente apontado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) que revela: "A desigualdade entre os sexos faz o Brasil perder 63% de seu potencial de desenvolvimento humano".
O fundamentalismo religioso é um dos setores institucionais que perpetuam a partir da abrangente cultura machista presente no país, a condição de iminente risco de morte que parte considerável das mulheres vivencia no Brasil.
Diante do contexto em que se constata o avançar dos fundamentalismos religiosos em diversas esferas do país a Católicas pelo Direito de Decidir e o Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher Viviane dos Santos há três anos, nos 16 dias de ativismo, vem promovendo o diálogo aberto com a sociedade sobre os aspectos religiosos e violência contra as mulheres.
No ano de 2008 realizamos um ato público no centro de Guaianases que contou com apresentação teatral da simulação de um júri popular, em que o julgamento se referiu a um processo de violência contra a mulher: a população participou e se envolveu com indignação no desfecho do processo. A figura da noiva espancada serviu para sensibilizar os transeuntes e as imagens grafitadas pelos jovens da região marcaram a paisagem pelo combate a violência contra a mulher.
Em 2009 realizamos uma ampla panfletagem no dia 25 de novembro, divulgando as formas de violência que as mulheres podem viver e incentivando para a prática da denúncia e do acesso aos direitos previstos pela Lei Maria da Penha.
Nos 16 dias de ativismo de 2010 realizaremos o 1º Seminário: A falta do estado laico gera e legitima a violência contra as mulheres. A proposta visa envolver representantes que compõem a rede pública de atendimento às mulheres, com vistas a abrir o diálogo sobre o quanto os juízos de valores interferem na falta de efetivação dos direitos previstos para o combate da violência doméstica contra a mulher em território local e, conseqüentemente, em todo o país.

Thatiane Coghi Ladeira
Integrante da equipe de resposta rápida do Projeto Multiplicadoras de Católicas pelo Direito de Decidir - São Paulo.

Anamélia Alvarenga Nascimento - Psicóloga do Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher Viviane dos Santos - Guaianazes - São Paulo - SP

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Feminicídio - aumento do assassinato de mulheres no Brasil

Gilmara de Oliveira, 28 anos, celebra a primeira gravidez. Fernanda Martins, 32, escolhe vestidos para levar as três filhas à igreja. Maria do Socorro da Silva, 27, está na fila do embarque para voltar ao Brasil, depois de trabalhar por 24 meses na Espanha. Geysa Maciel dos Santos Cruz, 23, procura uma casa para morar com o filho Carlos Ralf, de 8. Tudo não passa de desejo de familiares e amigos que ficaram na saudade. As histórias das quatro mulheres foram interrompidas um pouco antes do fim da gestação, da seleção das roupas, do início do voo, da formatura de Ralf. Gilmara, Fernanda, Socorro e Geysa estão mortas. Foram assassinadas de forma covarde em 1998, 2002, 2009 e 2011, respectivamente. Deixaram de viver por serem mulheres.

Não são as únicas. Facadas, tiros, pedradas, golpes de foices e de machados foram os modos de assassinar 4,5 mil mulheres no ano passado em todo o Brasil. É fácil matá-las. Estupros coletivos, torturas psicológicas e físicas, negligência e discriminação — ora mascarada, ora pública — sufocam diariamente brasileiras. De todas as idades — desde a menina de dois anos estuprada e morta a golpes de enxada no interior do Ceará à senhora de 76 anos estrangulada pelo companheiro no Rio de Janeiro. E de todas as classes sociais.

A elevada proporção de mortes de homens — cerca de 90% das vítimas de homicídios — esconde o fenômeno do femicídio, ainda pouco estudado no país. O Brasil não produz estatísticas oficiais de homicídios por sexo, na contramão de países vizinhos que, além de monitorarem as mortes de mulheres, tipificam o crime em leis. Costa Rica, Guatemala, Chile, Colômbia e El Salvador incorporaram no ordenamento jurídico a definição do femicídio. México, Argentina e República Dominicana também estão discutindo alterações na legislação. Em toda a América Latina, o ritmo acelerado com que esses homicídios crescem indica o massacre por questões de gênero.

A série de reportagens “Fácil de matar”, que o Correio publica a partir de hoje, traça o novo cenário das mortes femininas no país. Estimativas obtidas pela reportagem apontam o aumento médio de 30% nesses crimes na última década. No Pará, chegou a 256%. Em Alagoas, 104%. A violência doméstica, sem resposta eficiente do Estado, apesar da aprovação da Lei Maria da Penha, persiste. Mas são cada vez mais comuns as mortes encomendadas por organizações criminosas, ligadas ao narcotráfico, às redes de exploração sexual e às máfias das fronteiras.

Durante os últimos dois meses, a reportagem buscou os crimes, as vítimas e identificou os algozes, todos homens. A covardia segue uma mesma lógica, fundamentada em repetidas violações de direitos. Ao longo da produção da reportagem, pelo menos 286 mulheres foram mortas no país. As tragédias — que serão contadas ao longo da semana — se perpetuam nas capitais, no interior e ultrapassam fronteiras, fazendo vítimas do outro lado do Oceano Atlântico. Em meio às histórias, uma mulher foi escolhida para dar voz às sobreviventes, reféns agora do medo. Tereza teve mais de 40% do corpo queimado depois de o marido derramar gasolina nela e atear fogo. Preso, ele não desistiu de matá-la.
Invisíveis

A dificuldade em mapear as informações é a primeira comprovação da invisibilidade do problema para o Poder Público. O levantamento feito pela reportagem considerou dados das secretarias de segurança pública, das polícias e dos movimentos feministas. Em média, 4,6 mulheres são assassinadas por 100 mil habitantes do sexo feminino, podendo mais que dobrar em algumas cidades. Os índices se igualam ou mesmo superam, sozinhos, a taxa total de homicídios, incluindo mulheres e homens, de países europeus ocidentais (3 a 4 por 100 mil), da América do Norte (2 a 6) e na Austrália (2 a 3). Em relação à América Latina, o Brasil perde apenas para lugares como El Salvador, Guiana e Guatemala, onde grupos de direitos humanos já atuam para reverter o caos provocado pelas mortes. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS).

As únicas informações oficiais disponíveis no Brasil são do Ministério da Saúde, com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Divergem, no entanto, dos números da segurança pública e são prejudicadas por subnotificações. A série histórica das certidões de óbito comprova o aumento dos homicídios no país. Passa de 3,6 mil em 1996 para 4 mil em 2006. O próprio governo critica os dados. A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, ligada à Presidência da República, ignora o fenômeno. Em nenhum dos pontos destacados pelo Plano Nacional de Políticas para Mulheres, a redução dos assassinatos aparece. Segundo a ministra Iriny Lopes, a prioridade é a prevenção da violência. As expectativas de reverter a matança recaem agora sobre a primeira mulher eleita para ocupar o Palácio do Planalto. Dilma Rousseff prometeu, no discurso de posse, “glorificar a vida de cada uma das brasileiras”.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2011/04/17/interna_brasil,248216/facil-de-matar-serie-traca-o-novo-cenario-das-mortes-femininas-no-pais.shtml

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cenas Ativistas Não São Espaços Seguros Para Mulheres: Sobre o Abuso de Mulheres Ativistas por Homens Ativistas

Tamara K. Nopper

Como uma mulher que tem experimentado abuso físico e emocional de homens, alguns dos quais eu tive longos relacionamentos, foi sempre difícil aprender de outras mulheres ativistas que elas estavam sendo abusadas por homens ativistas.
As questões interrelacionadas do sexismo, misoginia e homofobia em círculos ativistas são excessivas, e não é surpreendente que mulheres são abusadas física e emocionalmente por homens ativistas com os quais elas trabalham em vários projetos.
Eu não estou falando abstratamente aqui. Na verdade, eu sei de vários relacionamentos entre homens ativistas e mulheres nos quais as últimas são abusadas se não fisicamente, emocionalmente. Por exemplo, há muito tempo uma amiga minha me mostrou ferimentos em seu braço que ela me disse que foram causados por outro homem ativista. Essa mulher certamente luta emocionalmente, o que é um tanto esperado dado que ela experimentou abuso físico. O que era adicionalmente desolador de ver era como a mulher era evitada por círculos ativistas quando ela tentava falar sobre seu abuso ou o ter abordado. Alguns disseram a ela para ultrapassá-lo, ou para se focar em “verdadeiros” homens bacacas tais como proeminentes figuras políticas. Outros disseram a ela para não deixar “problemas pessoais” entrarem no caminho da “realização do trabalho”.
Eu lutei com a recuperação de minha amiga também. Como sobrevivente de abuso, era difícil encontrar uma mulher que de certa forma era um espectro de mim. Eu buscaria essa mulher, e ela iria ao acaso dizer-me sobre outra briga que ela e seu namorado haviam tido. Eu encontraria a mim mesma evitando essa mulher porque, francamente, era difícil olhar para uma mulher que me recordava muito de quem eu não era há muito tempo: uma pessoa assustada, envergonhada e desesperada que balbuciaria para qualquer pessoa disposta a ouvi-la sobre o que estava acontecendo com ela. Em outras palavras, eu, como essa mulher, tínhamos atravessado o desespero de tentar sair de uma relação abusiva e necessitando finalmente contar às pessoas o que estava acontecendo comigo. E similarmente a como essa mulher era tratada, a maioria das pessoas, até mesmo aqueles que eu chamava de amigos, se esquivavam de me escutar porque eles não queriam ser incomodados ou estavam lutando com suas próprias lutas emocionais.

Para obter o arquivo em .pdf completo, acesse: http://tinyurl.com/468b2gy